Um artigo agora publicado na revista Science junta as duas pontas para concluir que, com um pouco de esforço adicional, é possível completar, em determinados cenários, o trabalho de descrição da maior parte da vida no planeta até ao final século.
O trabalho – liderado pelo investigador Mark Costello, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia – parte de uma revisão do que se sabe para concluir que haverá menos espécies do que se imagina, que as piores estimativas sobre o ritmo de extinções não são credíveis e que há cada vez mais taxonomistas a varrer a natureza à procura de novos animais e plantas. “Uma reunião de biólogos conservacionistas ou ecologistas raramente está completa sem preocupações sobre o ritmo das extinções, de que milhões de espécies ainda estão por ser descobertas e de que o esforço taxonómico está a diminuir”, dizem os autores, no artigo. “Defendemos que pelo menos duas destas preocupações estão erradas”, completam.
Há cerca de 1,9 milhões de espécies conhecidas no mundo, mas muitas serão “sinónimos” – ou seja, o mesmo bicho ou planta, mas descritos mais do que uma vez. Os autores estimam que uma em cada cinco espécies estará nesta situação, o que coloca o número verdadeiro em 1,5 milhões.
Já o número de espécies desconhecidas, que ninguém até agora viu ou nomeou, tem sido estimado entre dois milhões e 100 milhões. A partir de uma série de estimativas novas, publicadas nos últimos dois anos, o artigo conclui que os números estarão confinados a um intervalo menor – entre dois e oitos milhões, com cinco milhões como valor médio.
Também com base na literatura já publicada, Mark Costello e os seus colegas Robert May (Universidade de Oxford) e Nigel Stork (Universidade Griffith) concluem que haverá um exército de 47.000 taxonomistas no mundo. Na última década, terão descoberto em média 17.500 espécies novas por ano. “Os taxonomistas não estão em risco de extinção”, conclui o artigo.
Para estes profissionais, o pior pesadelo é imaginar que enquanto novas espécies são descobertas, outras, em número maior, estarão a desaparecer do planeta. O trabalho publicado na Scienceargumenta que talvez seja possível minorar esta frustração. “Há provas de que as extinções contemporâneas não têm sido tão elevadas como alguns previam”, escrevem os cientistas. O mais realista será admitir que, em cada década, no máximo 1% das espécies chegue ao seu fim na Terra – contra estimativas mais pessimistas que apontam para taxas de até 5%.
A incerteza no ritmo de extinções permanece maior do que a que existe sobre o número de espécies na Terra. Ainda assim, se o esforço dos taxonomistas for aumentado – algo que, segundo os autores, é possível – pode-se chegar a dois milhões de espécies descritas em 2040, 3,5 milhões em 2100 e cinco milhões em 2220.
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